O Homem de Giz - C. J. Tudor
Olá fãs de leitura, tudo bem? Hoje vamos refletir um pouco sobre o livro "O homem de giz" da escritora C. J. Tudor. Ele se trata do romance de estréia da escritora e recebeu dois prêmios, então já se pode imaginar quão bom é! Essa análise não vai ser nada parecida com a primeira que fiz, até porque são livros de gêneros bem diferentes. "O homem de giz" não é um livro de ficação científica (sci-fi), mas sim de ficção criminal, terror e suspense. Como aviso, eu o li traduzido para o português e há spoilers!!
Bom, vamos falar um pouco sobre a escritora por trás do livro. Caroline possui quatro livros publicados desde 2018 e admite que Stephen King é uma grande influência na sua escrita. Como leitora que já leu alguns livros de King e que os adora, posso dizer que não deixa nada a desejar para os fãs do Rei do Terror. Caroline só ganhou sua primeira publicação com mais de 30 anos de idade, embora tenha tentado publicar muito antes disso, e agradece sua filha por isso! O principal elemento de mistério do livro, os pequenos homens de giz que começam a ser desenhados por (aparentemente) ninguém surgiram na cabeça de Tudor após brincar com sua filha desenhando figuras de giz na entrada da garagem. Após a brincadeira, Tudor entrou na casa e só saiu de noite, quando abriu a porta e percebeu como as figuras de giz pareciam estranhamente macabras à luz da lua. Tirei todas essas curiosidades de uma entrevista que ela deu pouco antes da publicação de seu primeiro livro, vocês podem ler na íntegra se quiserem (em: <https://crimefictionlover.com/2017/11/ntn-cj-tudor-interviewed/>).
A turma de amigos presente no livro e seus mistérios foram inspirados na própria vida pré-adolescente de Tudor (outra entrevista que pode ser lida integralmente em: <https://www.bookbrowse.com/author_interviews/full/index.cfm/author_number/3013/c-j-tudor>). Ela incluso comenta sobre encontrar um carrinho de bebê com o que pareciam ser furos de bala e como a imagem parecia assustadora (será que aparecerá em algum livro??). A turma de amigos de Ed é composta de quatro amigos: Hoppo, Gav Gordo, Nicky e Mickey Metal. Todos eles são o que pode se esperar de pré-adolescentes, criativos e potencialmente cruéis.
O livro é narrado em primeira pessoa, o que é muito importante de ser percebido: nós só temos a visão de Eddie (ou Ed dependendo da idade), que a conta da forma que a história lhe cair melhor. A história se divide em dois momentos temporais: o ano passado de 1986 e o ano atual de 2016. A impressão que se dá é que ele decide escrever o livro para dar um fim ao que se iniciou 30 anos antes, afinal ele está de mudança da sua cidade-natal para Manchester, onde pretende começar um nova vida ao 42 anos. Claro que só descobrimos isso no final do livro, assim como outros detalhes, mas é assim que é para ser. Se soubéssemos desde o começo que Ed é um mentiroso, incluso para si mesmo, a história não teria o mesmo impacto.
Bom, devo dizer que após chegar ao final, um detalhe não queria sair da minha cabeça: mas e o ataque ao vigário? O Reverendo Martin tinha sido brutalmente atacado e nós descobrimos que quem o espancou foi o policial Andy e seus amigos, mas e as asas nas costas dele? e as figuras de giz? É claro que aquilo não poderia ser uma criação sobrenatural, esse livro simplesmente não tinha esse elemento específico. Foi então que o pensamento me acertou em cheio: foi tudo o cleptomaníaco do Ed. Claro que esse pensamento pode ter vindo instantamente para alguns leitores após descobrirmos que é ele que detém a cabeça de Elisa, mas não foi assim para mim, a verdade é que só lembrei que esse detalhe não foi resolvido. Ou melhor, não foi relevado, porque a verdade é que Ed não era forte o suficiente para se olhar de verdade. É claro que não resta dúvidas de que foi Ed após aceitar isso, afinal ele acordou em uma madrugada e desenhou homens de giz freneticamente na moldura da lareira, assim como ele se enganou quando convocou todos os amigos para a busca no bosque que levou ao encontro do corpo.
A verdade é que todas as personagens do livro tem seus demônios, mas a surpresa é que os três mosqueteiros que permanceram em Anderbury são os que guardam os piores segredos. Gav Gordo assistiu ao abuso que Ed sofreu do irmão mais velho de Mickey Metal, Sean, e decidiu cobrar a dívida de sua forma infatil, sem imaginar que aquilo levaria à morte do adolescente. Hoppo decidiu se vingar de Mickey Metal (seja por achar que o amigo havia realmente tentado envenenar o Murphy, seja por nunca ter sido fã do cara) e o embebedeu, sem imaginar que aquilo levaria a mobilidade do amigo Gav; depois, ele teve que acobertar seu primeiro crime com um segundo crime, mais cruel ainda, o de levar à morte o outro irmão Cooper que queria escrever um livro sobre o passado. E Ed, é claro, é muito bom em esconder suas reais ações por trás da imagem de um professor alcóolico que quer apenas entender seus pensamentos.
A verdade é que as ações de Ed também tiveram consequências trágicas e nós podemos nos perguntar até que ponto ele realmente não queria ter feito aquilo? Por exemplo, até que ponto ele não queria ter colocado o anel no tampo da mesa do Sr. Halloran? Até que ponto ele só queria colecionar objetos e não tomar pertences pessoais para si? Ele conseguiu contornar o "Confesse" condenatório do Rev. Martin, afinal o religioso era realmente um maníaco que achava que estava agindo em nome de Deus ao fazer tudo o que fez, mas o que ninguém suspeitava era que, realmente, o menino Ed tinha que se confessar pela noite na igreja.
Falando em Sr. Halloran, ele foi uma personagem que me intrigou. De início, pensei que seria ele o responsável por todos os problemas que seriam causados na cidade, afinal é uma nova persona que ninguém de fato conhecia e que ainda tinha uma aparência cadavérica, que incluso era chamado de "homem de giz", como o título do livro, então eu pensei automaticamente que era ele. Mas a pulga que ficou na minha orelha era: que tipo de livro criminal é esse? quem revela nas primeiras páginas o criminoso? Mas é claro que, desde o começo, ele nunca foi levado como criminoso pela narração de Eddie porque, no fundo, o que dá a entender é que o narrador admirava e muito o professor, o que nos faz perguntar se não foi ele (e não o pai de Ed) o principal incentivador para ele estudar letras. O crime do Sr. Halloran foi se apaixonar por uma garota menor de idade e, o que piora tudo, ter sido correspondido ao ponto de se encontrarem diversas noites no bosque, onde a menina foi confundida com Hannah e morta pelo Rev. Martin, que queria desesperadamente manter sua imagem de bom moço devoto a Deus. Que o Rev. Martin tinha matado a garota do Twister eu matei logo após a visita do Ed à casa de repouso, quando a simpática e traíra Senhora do Jardim fala que gosta de pernas fortes. Nesse momento, já estava claro que o reverendo estava mais lúcido do que aparentava, e que o "Confesse" que ele falava tinha algum sentido a mais para Ed do que teria para qualquer outra pessoa. Eu fiquei remoendo como aquilo poderia ser importante e sobre enganar a todos e sobre não querer que a Hannah tivesse a criança mesmo sendo o líder do movimento antiaborto. Foi então que percebi que tinha sido ele quem matara Elisa, só não tinha entendido a necessidade de separar os membros, o que foi esclarecido no final do livro.
Em suma, o livro "O homem de giz" é uma ótima leitura, eletrizante, que te deixa querendo ler sempre a próxima página para entender logo o que está acontecendo, porque com certeza não é um livro óbvio. Como eu disse no começo da análise, ele é brilhantemente escrito em primeira pessoa, o que dá margem para esconder alguns pensamentos que o próprio Ed escondia dele mesmo. A tendência dele de mentir para si mesmo se confirma ainva mais com a última cena em que ele se esquece momentamente do buraco da caixa de correio e quer se enganar dizendo que com ele não ocorrerá o mesmo que o que aconteceu com Geoff. Definitivamente, é um ótimo livro de estreia para C. J. Tudor e eu espero ansiosamente por ler mais dessa escritora de suspense macabro.
Obrigada pela leitura e espero que sua próxima aventura literária seja recompensadora! Abraços.
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